O Artista
O primeiro filme mudo que assisti foi do Chaplin,
chamado O Garoto. Era em preto e branco e mudo, ainda assim, impossível não ri
de todos seus movimentos e gestos, que mesmo sem expressar som e apenas
visualmente, fazia ri e chorar conforme as cenas. Claro que depois de O Garoto,
o cinema do Chaplin e, por conseqüência, todo o cinema mudo, desde Meliés (no
princípio da arte Cinema), passando pelos épicos de Griffith, as tragicomédias de
Chaplin e todo aquele movimento sombrio e assustador de nome Expressionismo
Alemão.
E em pleno século da tecnologia e do 3D, somos
presenteados pela obra do Michel Hazanavicius, O Artista, um filme mudo e em
preto e branco, uma singela e bela homenagem ao Cinema Mudo e todos os
profissionais da época. Percebe-se a fidelidade á época, com os trajos, as
atuações teatrais e mais emotivas, todo o movimento de câmera, com enquadramentos
de plano geral (visto na cena das escadas), close-up (durante o filme inteiro
para enfocar as atuações) e plano médio (individualizando os atores), a trilha
sonora que serve como um complemento ao filme e vai caminhando juntamente com o
roteiro, que por si só já é vale como homenagem digna ao cinema mudo.
George Valentin (Jean Dujardin) é um astro de
cinema mudo, que canta, alegra e dança, porém, teme a chegada do cinema falado
e que assim, acabe no esquecimento. Por outro lado, temos Peppy Miller (a
graciosa Berenice Bejo) que esta iniciando o trabalho como atriz, entrando na
era do cinema falado. Resultando em várias situações dramáticas, românticas e
cômicas envolvendo o casal de protagonistas do filme, o roteiro do O Artista
vai criando m vínculo de homenagens às estórias e tramas vividas no cinema
mudo, drama, comédia e romance.
O que dizer então da fotografia do filme, em preto
e branco, baseada nos enquadramentos do cinema mudo. A montagem, intercalando entre
cenas do filme e as famosas legendas, sempre que apropriadas (como na cena do
tiro, em que ao invés de se ouvir um barulho, foi traduzido por um emocionante “Bang”),
porém, minimamente utilizadas. Todo o enredo é contado, de fato, a partir das
expressões e atos dos atores e toda utilização do cenário na cena.
E se o enredo utilizava-se de poucas falas e se
baseava mais no movimento da cena, é de respeito parabenizar as excelentes
atuações de Berenice Bejo e Jean Dujardin, que conseguiram trazer ao cinema
tecnológico de hoje, atuações mais teatrais e passadas, símbolo do cinema mudo.
Além da presença de cena que ambos têm, eles dançam, riem e dramatizam,
emocionando o telespectador, como na cena do incêndio em que se vê a loucura de
George Valentin destruindo todo o acervo de fitas.
Há algumas cenas em especial no filme, uma delas
resume todo seu objetivo, a belíssima cena que estão filmando uma festa, em que
o personagem de George Valentin dança com a personagem de Peppy Miller. A cena
é gravada várias vezes, com o excelente uso da montagem aqui, vemos as diversas
vezes que a cena é grava observando as claquetes e os números de takes. Aqui
também, observa-se, gradativamente, como a cena começa séria, passando para o
cômico e se desenvolvendo em uma cena romântica criando um clima que é
ultrapassado para a próxima cena.
Outra cena muito legal é justamente a cena do
pesadelo, em que Dujardin começa a “ouvir” o barulho de todas as coisas e
pessoas ao redor, iniciando um medo da evolução do cinema. Mas em nenhum
momento o filme demonstra a evolução como algo estranho e errado, pelo
contrário, tornando o protagonista um ser orgulhoso mas que aos poucos vai
percebendo que é impossível escapar.
Enfim, um belíssimo filme, com atuações
maravilhosas e outras aparições (como John Goodman, Malcolm McDowell e James
Cromwell) incríveis. O francês fez um excelente trabalho.
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