segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

#007 O Artista


O Artista
O primeiro filme mudo que assisti foi do Chaplin, chamado O Garoto. Era em preto e branco e mudo, ainda assim, impossível não ri de todos seus movimentos e gestos, que mesmo sem expressar som e apenas visualmente, fazia ri e chorar conforme as cenas. Claro que depois de O Garoto, o cinema do Chaplin e, por conseqüência, todo o cinema mudo, desde Meliés (no princípio da arte Cinema), passando pelos épicos de Griffith, as tragicomédias de Chaplin e todo aquele movimento sombrio e assustador de nome Expressionismo Alemão.

E em pleno século da tecnologia e do 3D, somos presenteados pela obra do Michel Hazanavicius, O Artista, um filme mudo e em preto e branco, uma singela e bela homenagem ao Cinema Mudo e todos os profissionais da época. Percebe-se a fidelidade á época, com os trajos, as atuações teatrais e mais emotivas, todo o movimento de câmera, com enquadramentos de plano geral (visto na cena das escadas), close-up (durante o filme inteiro para enfocar as atuações) e plano médio (individualizando os atores), a trilha sonora que serve como um complemento ao filme e vai caminhando juntamente com o roteiro, que por si só já é vale como homenagem digna ao cinema mudo.

George Valentin (Jean Dujardin) é um astro de cinema mudo, que canta, alegra e dança, porém, teme a chegada do cinema falado e que assim, acabe no esquecimento. Por outro lado, temos Peppy Miller (a graciosa Berenice Bejo) que esta iniciando o trabalho como atriz, entrando na era do cinema falado. Resultando em várias situações dramáticas, românticas e cômicas envolvendo o casal de protagonistas do filme, o roteiro do O Artista vai criando m vínculo de homenagens às estórias e tramas vividas no cinema mudo, drama, comédia e romance.

O que dizer então da fotografia do filme, em preto e branco, baseada nos enquadramentos do cinema mudo. A montagem, intercalando entre cenas do filme e as famosas legendas, sempre que apropriadas (como na cena do tiro, em que ao invés de se ouvir um barulho, foi traduzido por um emocionante “Bang”), porém, minimamente utilizadas. Todo o enredo é contado, de fato, a partir das expressões e atos dos atores e toda utilização do cenário na cena.

E se o enredo utilizava-se de poucas falas e se baseava mais no movimento da cena, é de respeito parabenizar as excelentes atuações de Berenice Bejo e Jean Dujardin, que conseguiram trazer ao cinema tecnológico de hoje, atuações mais teatrais e passadas, símbolo do cinema mudo. Além da presença de cena que ambos têm, eles dançam, riem e dramatizam, emocionando o telespectador, como na cena do incêndio em que se vê a loucura de George Valentin destruindo todo o acervo de fitas.

Há algumas cenas em especial no filme, uma delas resume todo seu objetivo, a belíssima cena que estão filmando uma festa, em que o personagem de George Valentin dança com a personagem de Peppy Miller. A cena é gravada várias vezes, com o excelente uso da montagem aqui, vemos as diversas vezes que a cena é grava observando as claquetes e os números de takes. Aqui também, observa-se, gradativamente, como a cena começa séria, passando para o cômico e se desenvolvendo em uma cena romântica criando um clima que é ultrapassado para a próxima cena.

Outra cena muito legal é justamente a cena do pesadelo, em que Dujardin começa a “ouvir” o barulho de todas as coisas e pessoas ao redor, iniciando um medo da evolução do cinema. Mas em nenhum momento o filme demonstra a evolução como algo estranho e errado, pelo contrário, tornando o protagonista um ser orgulhoso mas que aos poucos vai percebendo que é impossível escapar.

Enfim, um belíssimo filme, com atuações maravilhosas e outras aparições (como John Goodman, Malcolm McDowell e James Cromwell) incríveis. O francês fez um excelente trabalho.


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